Existem também serviços complementares e desenvolvem-se actividades de animação ambiental que podem contribuir para:
Existem também serviços complementares e desenvolvem-se actividades de animação ambiental que podem contribuir para:
Figura 1. As províncias de Portugal Continental (No canto superior direito localiza-se a província de Trás-os-Montes).
Vilar de Izeu, juntamente com Vila Nova, é uma das aldeias pertencentes à freguesia de Oucidres, concelho de Chaves, distrito de Vila Real, Trás-os-Montes (Nordeste de Portugal Continental).
Figura 4. A localização da aldeia de Vilar de Izeu.
A aldeia de Vilar de Izeu situa-se nas extensas áreas planálticas, monótonas e quase nuas (despidas de vegetação arbórea), retalhadas por depressões e vales encaixados (estreitos e mais ou menos profundos) por onde correm alguns dos afluentes do rio Douro. Sobre estes vastos planaltos erguem-se alguns alinhamentos montanhosos elevados, de que são exemplos as serras do Marão, Padrela, Alvão, Montezinho, Bornes, Nogueira e Mogadouro.
Figura 6. Os campos abertos típicos de Trás-os-Montes.
Nas áreas em torno da aldeia de Vilar de Izeu domina o sistema agrícola extensivo, em afolhamento bienal. Isto é, os campos, geralmente limpos (sem árvores), são divididos em duas folhas, sendo uma delas ocupada com cereais de sequeiro, como o centeio e o trigo, mas com predominância para o primeiro, enquanto a outra fica em pousio. Os cereais ocupam assim o primeiro lugar dentro das culturas temporárias, com realce então para o centeio, que ocupa mais de metade das explorações e da área cultivada. Note-se que o centeio é um cereal de terrenos pobres, acidentados, secos e pedregosos e de clima excessivo, de feição continental. É um cereal em que, em tempos, Portugal era auto-suficiente, pois a sua produção tem vindo a diminuir ao longo dos anos. É nesta região (interior nortenho) que se produz mais de 90% da produção nacional, salientando-se os distritos de Bragança, Vila Real, Guarda e Viseu.
No entanto, num anel mais ou menos largo a envolver a aldeia, a agricultura assume um carácter intensivo e policultural (várias culturas numa mesma parcela agrícola), nelas se dispondo as culturas mais exigentes e delicadas, como as hortícolas e a batata, que é necessário regar e estrumar abundantemente, e algumas árvores de fruto, destinadas principalmente ao autoconsumo.
A batata cultiva-se na grande maioria das explorações, mas ocupa uma área não muito grande e, a sua produção tem vindo a diminuir. As explorações com culturas permanentes são bastante numerosas e ocupam uma área um pouco superior à das culturas temporárias. Salientam-se o olival, a vinha e os soutos (castanheiros). Também a vinha, onde outrora, em Vilar de Izeu, todos tinham os seus lagares e produziam o seu próprio vinho, tem vindo a diminuir, sendo hoje muito raro encontrar quem tenha lagares e produza para proveito próprio. Ao longo dos tempos, sempre foram os solos, geralmente pobres e acidentados e o clima relativamente excessivo, que dificultaram, no seu conjunto, as actividades agrícolas e pecuárias.
Em relação à pecuária onde a água o permite, desenvolvem-se as pastagens e cria-se o gado suíno e bovino. Antigamente, nesta aldeia e, para a maioria dos pequenos agricultores, as máquinas agrícolas, no sentido moderno do termo, praticamente não existiam. As terras eram lavradas com arados recorrendo-se à força de tracção animal, usando-se para isso os bois, cavalos, burros ou mesmo mulas. Na preparação da terra, muito do trabalho era essencialmente manual, com a utilização da enxada, o que exigia muita mão-de-obra, quase sempre constituída pelo agregado familiar ou alguns assalariados, e um enorme esforço físico dos homens e mulheres. Apenas os animais de tracção, sobretudo o boi, puxando o arado, a charrua e a grade, constituíram e constituem ainda preciosos auxiliares nesta operação cultural. Antigamente, os produtos agrícolas eram transportados, do campo para casa e vice-versa, em carros de bois, mas havia também quem os transportasse no seu próprio corpo (meio pessoal ou lombar).
Também, em tempos mais remotos, quando, na aldeia, alguém tinha um trabalho mais pesado, isso era divulgado de boca em boca e essa pessoa sabia antecipadamente que não precisava de pedir ajuda pois ela iria aparecer.
Os trabalhos mais pesados, como a vindima, o arranque das batatas, a sementeira, a recolha dos fenos, a segada (ceifa) ou a malhada do centeio (separação do grão da palha) eram trabalhos que envolviam muitos meios humanos. Actualmente a máquina veio substituir muitos desses meios.
Constituição geológica:
Figura 10. Exemplo de desertificação no Nordeste Transmontano.
Estas como muitas outras aldeias, enchem-se de vida somente no mês de Agosto, altura do regresso de férias de muitos dos emigrantes. É também neste mês que ocorrem as tradicionais festas populares, muitas delas, em honra dos seus compatriotas que foram, outrora, forçados a migrar para poderem sobreviver. Em Vilar de Izeu ocorrem também neste mês de Agosto as festas em honra do seu santo padroeiro: São Tomé.
Figura 12. A eira e o palheiro (típicos da região de Vilar de Izeu), actualmente em vias de desaparecimento total.
- Nas malhadas também os mais pequenos podiam participar cumprindo as tarefas que lhes eram previamente definidas;
- Antigamente produzia-se o linho que depois era trabalhado e dava origem a tantas peças magníficas de artesanato. Hoje, essa cultura encontra-se em total declíneo;
- Antigamente a matança do porco era um dia de festa. Actualmente este hábito continua, mas a alegria associada a este evento foi-se perdendo;
- A vindima era feita em grupo, mas todos tinham lagar onde produziam o seu próprio vinho. Outrora, a apanha das uvas era efectuada para pequenos cestos que depois de cheios eram despejados em “barleiros” (cestos maiores), que por sua vez eram despejados em dornas. Terminada a vindima, era necessário pisar as uvas já colocadas no lagar. Este trabalho era geralmente realizado à noite pelos homens, enquanto as raparigas bailavam e divertiam-se ao som da concertina;
- Os habitantes da aldeia não usavam sapatos, mas sim as socas (tamancos), especialmente no Inverno, e que eram construídas em madeira. Assim mantinham sempre os pés bem quentinhos;
- Os trabalhos domésticos ou caseiros eram organizados pela comunidade feminina da aldeia, mas muitas das tarefas a realizar em prol do bem-estar da aldeia eram discutidas e aprovadas pela comunidade formada pelo próprio povo. Estas tarefas eram geralmente adaptadas às necessidades da aldeia e todos as cumpriam de igual forma,
- Não se falava de política pois era extremamente perigoso fazê-lo e, como tal, era proibido tocar nesse assunto;
- Outrora não existia televisão e as notícias passavam de boca em boca, mas se fossem divulgadas na igreja então eram aceites como verdadeiras;
- Não existindo televisão, tanto os jovens como os adultos distraiam-se, os primeiros com as suas brincadeiras e os segundos com os jogos, hoje apelidados de populares;
- As crianças divertiam-se fazendo a corrida das rodas, jogando a “bilharda” ou ao pião, entre outras brincadeiras;
- Os adultos gostavam muito de jogar o “Fite” um jogo parecido com o jogo das malhas, mas com regras diferentes. Actualmente existem ainda aldeias do concelho de Chaves onde se organizam torneios de “fite”. Também se jogavam as “gralhas” (um jogo parecido com o “fite”) e a “malha ferrinha”, entre outros;
- O souto (castanheiro) era e continua a ser uma presença viva em torno da aldeia. As castanha sempre fizeram parte do quotidiano dos seus habitantes. Porém, antigamente, era costume alguns rapazes deslocarem-se ao campo e fazerem uma cova onde colocavam algumas castanhas envoltas em areia seca, sendo a cova tapada por folhas e terra. Este método permitia conservar, durante alguns meses, estas castanhas frescas e prontas a serem usadas a qualquer momento. Assim, quando chegavam os meses de Maio ou Junho já ninguém, na aldeia, possuía castanhas nem sonhava podê-las encontrar noutros locais. No entanto, quando já ninguém acreditava, eis que uma espécie de milagre acontecia e esses rapazes apareciam com as castanhas que tinham escondido, revelando o mistério e fazendo um enorme magusto para todos;
- Por altura do ano novo, mais propriamente no dia 6 de Janeiro (dia de Reis) as crianças formavam grupos que ordeiramente, com uma sacola às costas, batiam a todas as portas dizendo” Boas Festas e Bom Ano, darão-nos os Reis” na esperança de receberem algo em troca. Os sacos normalmente enchiam-se de produtos que eram produzidos pelos donos das casas, como por exemplo: maças, figos secos, castanhas, nozes ou até mesmo rebuçados;
- Na altura da Páscoa, havia, geralmente, bailes que eram muito animados e onde se juntavam pessoas oriundas de outras aldeias;
- No Entrudo (carnaval) não existiam corsos carnavalescos, máscaras e nem samba. Cada um mascarava-se como podia. Geralmente os homens disfarçavam-se de mulheres e vice-versa. A cara era usualmente tapada com panos ou rendas. Ao início da noite, haviam adultos que se mascaravam e percorriam todas as casas da aldeia cumprimentando os seus proprietários, mas sem proferirem uma única palavra. Só após o términus deste evento se ficava a saber afinal quem era quem.
Com este artigo, pretendeu-se dar a conhecer um pouco da história (passado e presente) de Vilar de Izeu, uma entre muitas outras aldeias, por vezes esquecidas, mas que encerram em si um passado bastante rico e uma beleza por vezes rara, aspectos estes aos quais nem sempre se dá a devida importância.
Vilar de Izeu é de facto uma aldeia muito pequena, mas que merece e vale a pena ser visitada.