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sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Turismo em Espaço Rural: Parque Natural de Montesinho

Modalidades do Turismo em Espaço Rural - Portugal



O turismo em espaço rural engloba diversas modalidades , a saber:

Turismo Rural: é o aproveitamento de casas rústicas pertencentes a particulares que, pela sua traça, materiais de construção entre outras características, se integra na arquitectura típica regional;

Agro-Turismo: é um serviço prestado em casas de particulares que se encontram integradas em explorações agrícolas, que permitem aos seus hóspedes o acompanhamento e o conhecimento das actividades agrícolas ou a participação nos trabalhos que se desenvolvem nesses locais;



Turismo de Habitação: é um serviço prestado aos hóspedes pelas famílias de casas antigas particulares que, devido ao seu valor arquitectónico, histórico ou artístico, são representativas de uma determinada época. Nesta categoria encontram-se muitos solares e casas apalaçadas.

Casas de Campo: é o aproveitamento de casas pertencentes a particulares e casas de abrigo situadas em áreas rurais, que devido à sua traça, materiais de construção entre outras características, se integram na arquitectura e ambiente rústico da área ou local onde se situam. Estas casas podem ou não ser utilizadas como habitação própria pelos seus proprietários, legítimos possuidores ou detentores das mesmas.

Turismo de Aldeia: é um empreendimento composto no mínimo por cinco casas pertencentes a particulares, situadas numa aldeia histórica, centros rurais ou aldeias, que mantenham, o seu conjunto urbano, estético e paisagístico típicos da região ou local onde se situam.



Turismo de Natureza: Esta forma de turismo tem como principal objectivo associar a ocupação dos tempos livres ao contacto com a natureza, em áreas de paisagem protegida, reservas ou parques naturais como o de Montesinho no Nordeste de Portugal Continental.



Nos últimos anos a procura destes espaços tem vindo a aumentar, mas essa procura tem sido limitada a um número muito restrito de actividades para que se mantenha a preservação do património ambiental, salvaguardando assim a biodiversidade (conjunto da flora e fauna) desses locais.



Em áreas como a do Parque Natural de Montesinho, podem-se encontrar diversas modalidades de hospedagem - Turismo em Espaço Rural e Casas da Natureza:

Casas -abrigo (serviço de hospedagem prestado a turistas em casas recuperadas, a partir do património do Estado); Casas-retiro (serviço de hospedagem prestado em casas recuperadas que mantêm o carácter genuíno da sua arquitectura, a partir de construções rurais tradicionais) e Centros de Acolhimento (serviço de alojamento prestado a grupos de turistas - em edifícios contruídos de raíz ou adaptados - com vista à educação ambiental, visitas de estudo e de carácter científico.

Existem também serviços complementares e desenvolvem-se actividades de animação ambiental que podem contribuir para:


- a divulgação da gastronomia, do artesanato, dos produtos e tradições (usos e costumes) da região onde se inserem;

- a observação local das magníficas paisagens, das formações geológicas, da flora (plantas), da fauna (animais) e respectivos habitats;




- a prática desportiva que possa ser desenvolvida sem prejuízo da Natureza.


O Parque Natural de Montesinho - Nordeste de Portugal




O Parque Natural de Montesinho, situado no Nordeste de Portugal (Trás-os-Montes) a Norte de Vinhais e Bragança, foi criado em 1979 e é actualmente um dos maiores espaços de área protegida em Portugal.







O Parque Natural de Montesinho apoia:

- a realização de feiras anuais onde os visitantes podem apreciar os famosos produtos fumados tradicionais de Vinhais;

- a apicultura (arte de criar abelhas e de aproveitar os seus produtos);

- a protecção de raças autóctones (nascidas na mesma terra onde habitam) de ovinos e de bovinos;

- a organização de exposições e de concursos anuais em Bragança e Vinhais;

- a reconstituição e conservação das grandes florestas de carvalhos e de soutos (castanheiros) duma forma sustentável (tendo em vista o futuro);


- medidas de protecção contra os incêndios e a erosão dos solos.


O Parque Natural de Montesinho promove, também, o desenvolvimento do turismo em espaço rural, o artesanato, a construção de equipamentos de acolhimento, a gastronomia e a arquitectura tradicional da região de Trás-os-Montes.



O Parque Natural de Montesinho e o turismo nas áreas rurais têm contribuido para o desenvolvimento de Trás-os-Montes, dado que:

- criam postos de trabalho - quer pela construção de equipamenos e de infra-estruturas de implementação e suporte às actividades desenvolvidas;

- promovem o desenvolvimento de outras actividades como os serviços (transportes, banca, telecomunicações, etc.) e alguns tipos de indústria;

- contribuiem para o encontro de culturas;

- projectam a cultura da região de Trás-os-Montes no Mundo;

- permitem a troca de experiências entre as populações locais e os seus visitantes, o que por vezes contribui para a difusão de inovações;

- incentivam o desenvolvimento do artesanato local;

- promovem a qualidade dos produtos da região;

- valorizam o património paisagístico e/ou cultural das áreas onde se insere, através da recuperação e conservação desse património;



- dinamizam as áreas pouco povoadas e em regressão, revalorizando-as;

- contribuem para a fixação da população, em especial a população jovem;

- evitam o despovoamento das áreas rurais;

- melhoram os rendimentos das populações locais através da acumulação de actividades;

- minimizam as assimetrias (sociais, culturais, demográficas, etc.).





terça-feira, 28 de agosto de 2007

Vilar de Izeu: aldeia de Trás-os-Montes (Portugal)

Vilar de Izeu: o retrato de uma aldeia transmontana



Localização geográfica:

Figura 1. As províncias de Portugal Continental (No canto superior direito localiza-se a província de Trás-os-Montes).

A aldeia de Vilar de Izeu tem como coordenadas geográficas: Latitude 41º 45’ N e Longitude 7º 19’ W e uma altitude de 751 metros e encontra-se no seio dos planaltos de Trás-os-Montes, entre o rio Tâmega (que banha a cidade de Chaves) e o rio Rabaçal e a Norte da Serra da Padrela e a Oeste da Serra da Nogueira. Vilar de Izeu é uma aldeia típica dos planaltos de Trás-os-Montes, situada entre serras.




Figura 2. O município de Chaves e concelhos limítrofes.


Figura 3. As freguesias do concelho de Chaves. (Na freguesa de Oucidres localiza-se a aldeia de Vilar de Izeu).



Vilar de Izeu, juntamente com Vila Nova, é uma das aldeias pertencentes à freguesia de Oucidres, concelho de Chaves, distrito de Vila Real, Trás-os-Montes (Nordeste de Portugal Continental).




Figura 4. A localização da aldeia de Vilar de Izeu.


A aldeia de Vilar de Izeu situa-se nas extensas áreas planálticas, monótonas e quase nuas (despidas de vegetação arbórea), retalhadas por depressões e vales encaixados (estreitos e mais ou menos profundos) por onde correm alguns dos afluentes do rio Douro. Sobre estes vastos planaltos erguem-se alguns alinhamentos montanhosos elevados, de que são exemplos as serras do Marão, Padrela, Alvão, Montezinho, Bornes, Nogueira e Mogadouro.




Figura 5. Aspecto do planalto de Trás-os-Montes.


O clima típico em Vilar de Izeu:


O clima característico nesta região apresenta acentuados contrastes com o do Noroeste de Portugal. Assim, na aldeia de Vilar de Izeu o clima é Temperado Mediterrâneo, mas de feição continental, ou seja, comparado com as restantes regiões do país, apresenta Invernos longos e muito frios (a queda de neve nestas áreas é um fenómeno frequente) e Verões bastante quentes e precipitações escassas. A escassez de precipitações nesta região explica-se por duas razões fundamentais. Por um lado, os alinhamentos montanhosos que separam o Nordeste do Noroeste constituem uma enorme barreira aos ventos húmidos do Oeste. Estes, ao subirem, no lado ocidental, pelas vertentes montanhosas originam ali precipitações abundantes, pelo que, depois de transporem a barreira para Leste, se tornam muito secos. Por outro lado, a região nordestina é fortemente influenciada pelos ventos de Leste (continentalidade), ou seja, do interior da Península Ibérica, muito secos e frios no Inverno e sufocantes no Verão. Por isso, existe um velho ditado que diz: “... que nesta região existem três meses de Inverno e três meses de Inferno”.Claro que a secura se acentua nas zonas mais deprimidas de Trás-os-Montes, já que os relevos elevados que as rodeiam dificultam a penetração dos ventos de Oeste (mais húmidos).



O espaço agrícola: (principais culturas e técnicas usadas):



Quanto à organização do espaço agrícola, Vilar de Izeu insere-se numa região onde se pratica ainda uma agricultura tradicional de subsistência, onde os produtores agrícolas com mais de 65 ou mais anos perfazem mais de 80% do total da população agrícola.
Em termos de estrutura agrária, os campos são normalmente pequenos, embora com dimensão média superior aos do Noroeste (cerca de 7 hectares), e desprovidos de vedações a separá-los entre si (campos abertos).





Figura 6. Os campos abertos típicos de Trás-os-Montes.


Nas áreas em torno da aldeia de Vilar de Izeu domina o sistema agrícola extensivo, em afolhamento bienal. Isto é, os campos, geralmente limpos (sem árvores), são divididos em duas folhas, sendo uma delas ocupada com cereais de sequeiro, como o centeio e o trigo, mas com predominância para o primeiro, enquanto a outra fica em pousio. Os cereais ocupam assim o primeiro lugar dentro das culturas temporárias, com realce então para o centeio, que ocupa mais de metade das explorações e da área cultivada. Note-se que o centeio é um cereal de terrenos pobres, acidentados, secos e pedregosos e de clima excessivo, de feição continental. É um cereal em que, em tempos, Portugal era auto-suficiente, pois a sua produção tem vindo a diminuir ao longo dos anos. É nesta região (interior nortenho) que se produz mais de 90% da produção nacional, salientando-se os distritos de Bragança, Vila Real, Guarda e Viseu.
No entanto, num anel mais ou menos largo a envolver a aldeia, a agricultura assume um carácter intensivo e policultural (várias culturas numa mesma parcela agrícola), nelas se dispondo as culturas mais exigentes e delicadas, como as hortícolas e a batata, que é necessário regar e estrumar abundantemente, e algumas árvores de fruto, destinadas principalmente ao autoconsumo.



Figura 7. Exemplo de policultura em redor de uma aldeia, como a de Vilar de Izeu, em Trás-os-Montes.


A batata cultiva-se na grande maioria das explorações, mas ocupa uma área não muito grande e, a sua produção tem vindo a diminuir. As explorações com culturas permanentes são bastante numerosas e ocupam uma área um pouco superior à das culturas temporárias. Salientam-se o olival, a vinha e os soutos (castanheiros). Também a vinha, onde outrora, em Vilar de Izeu, todos tinham os seus lagares e produziam o seu próprio vinho, tem vindo a diminuir, sendo hoje muito raro encontrar quem tenha lagares e produza para proveito próprio. Ao longo dos tempos, sempre foram os solos, geralmente pobres e acidentados e o clima relativamente excessivo, que dificultaram, no seu conjunto, as actividades agrícolas e pecuárias.
Em relação à pecuária onde a água o permite, desenvolvem-se as pastagens e cria-se o gado suíno e bovino. Antigamente, nesta aldeia e, para a maioria dos pequenos agricultores, as máquinas agrícolas, no sentido moderno do termo, praticamente não existiam. As terras eram lavradas com arados recorrendo-se à força de tracção animal, usando-se para isso os bois, cavalos, burros ou mesmo mulas. Na preparação da terra, muito do trabalho era essencialmente manual, com a utilização da enxada, o que exigia muita mão-de-obra, quase sempre constituída pelo agregado familiar ou alguns assalariados, e um enorme esforço físico dos homens e mulheres. Apenas os animais de tracção, sobretudo o boi, puxando o arado, a charrua e a grade, constituíram e constituem ainda preciosos auxiliares nesta operação cultural. Antigamente, os produtos agrícolas eram transportados, do campo para casa e vice-versa, em carros de bois, mas havia também quem os transportasse no seu próprio corpo (meio pessoal ou lombar).
Também, em tempos mais remotos, quando, na aldeia, alguém tinha um trabalho mais pesado, isso era divulgado de boca em boca e essa pessoa sabia antecipadamente que não precisava de pedir ajuda pois ela iria aparecer.




Figura 8. A malha (debulha) manual do centeio em Trás-os-Montes.


Os trabalhos mais pesados, como a vindima, o arranque das batatas, a sementeira, a recolha dos fenos, a segada (ceifa) ou a malhada do centeio (separação do grão da palha) eram trabalhos que envolviam muitos meios humanos. Actualmente a máquina veio substituir muitos desses meios.


Constituição geológica:


No que respeita à constituição geológica, a aldeia de Vilar de Izeu insere-se numa extensa área onde domina o granito, apesar de no Nordeste Transmontano dominarem claramente os xistos. Os solos graníticos (que podem ser arenosos ou argilosos), pobres em cálcio e em ácido fosfórico (dois dos elementos fundamentais na alimentação das plantas), são, no entanto, bastante férteis quando suficientemente húmidos, mas muito pobres quando demasiado secos. Este tipo de solo predomina em parte de Trás-os-Montes. Os solos xistosos, pouco permeáveis e, muitas vezes, pedregosos e pouco espessos, são, em regra, pobres e de cultura ingrata. Ocupam a maior parte do Nordeste de Portugal.



A actividade industrial:


Em termos industriais, Vilar de Izeu encontra-se naquela que é a região maior produtora de hidroelectricidade (devido ao carácter encaixado e rochoso dos vales dos rios, são numerosas as barragens) mas, esta região continua a apresentar um grau de industrialização muito modesto, não tendo grande significado no contexto nacional. O desenvolvimento industrial continua ainda a ser muito fraco.



As vias de comunicação:


As vias de comunicação, apesar de muitos melhoramentos são, no contexto nacional, raras e más (Vilar de Izeu encontra-se a uma distância de: 17 Km para Leste da sede de Concelho (a cidade de Chaves); 52,1 Km para Oeste da cidade de Bragança; 62,7 Km para Nordeste da cidade de Vila Real, e a 126,9 Km para Nordeste da cidade do Porto. Relativamente ao país vizinho (Espanha), Vilar de Izeu localiza-se a 121 Km para Sudeste da cidade de Vigo e a 156,2 Km para Su-Sudeste da cidade de Santiago de Compostela.





Figura 9. As principais vias de comunicação no concelho de Chaves.



O acesso à aldeia de Vilar de Izeu pode-se fazer através da Estrada Nacional Nº 103 (que liga as cidades de Chaves e Bragança) com duas alternativas: uma com desvio na Bolideira, via Bobadela e outra com desvio nas Assureiras do Meio, via Avelelas). Antigamente, a maioria das pessoa deslocavam-se a pé. Não existiam carros como os de hoje (com muitos cavalos), mas sim, carros construídos na própria aldeia, puxados por bois ou burros e eram muito poucas as pessoas que os tinham.



A demografia da região:


As redes hospitalar e escolar são deficientes e a assistência médico-sanitária deixa ainda muito a desejar. Face a este panorama não é de admirar que a densidade populacional do interior nortenho seja muito fraca, embora constituam excepção alguns núcleos férteis isolados onde a população se concentra, como os de Veiga de Chaves, Vale de Lafões, Cova da Beira e outros. Em termos demográficos, Vilar de Izeu é uma aldeia envelhecida e despovoada, tal como muitas outras desta região, resultado do fenómeno migratório que teve o seu auge nas décadas de 60 e 70 quando muitos casais saíram do país, rumo aos países industrializados da Europa Ocidental, que devastada pela IIª Guerra Mundial, necessitaram de numerosa mão-de-obra (França, República Federal da Alemanha, além de outros) ou ainda em direcção ao litoral Norte do país ou mesmo em direcção à região da capital (Lisboa) em busca de um futuro melhor.
O isolamento imposto outrora a Vilar de Izeu bem como a outras aldeias pela deficiência das vias de comunicação que as ligam ao resto do país, a pobreza e o carácter acidentado do solo, a dureza do clima aliado à sua secura e a resistência tenazmente oferecida à influência das formas de vida moderna explicam, pelo menos em grande parte, que a região do Nordeste seja uma das regiões portuguesas de mais baixo nível socioeconómico, onde a estagnação é ainda uma realidade indiscutível, o que se tem reflectido num permanente êxodo da sua população quer para as regiões do litoral quer para o estrangeiro. Oucidres, a freguesia onde se insere Vilar de Izeu, conta actualmente com um número de habitantes inferior a 300 e a aldeia com um número inferior a 50.




Figura 10. Exemplo de desertificação no Nordeste Transmontano.



Estas como muitas outras aldeias, enchem-se de vida somente no mês de Agosto, altura do regresso de férias de muitos dos emigrantes. É também neste mês que ocorrem as tradicionais festas populares, muitas delas, em honra dos seus compatriotas que foram, outrora, forçados a migrar para poderem sobreviver. Em Vilar de Izeu ocorrem também neste mês de Agosto as festas em honra do seu santo padroeiro: São Tomé.


O tipo de povoamento rural:






Figura 11. Casa de granito típica de Vilar de Izeu. (Actualmente esta casa encontra-se alterada, fruto da modernidade, não apresentando a varanda que se observa na figura).



O povoamento rural, dominante nesta região, é o concentrado. A aldeia de Vilar de Izeu é um exemplo disso. É uma aldeia pequena como muitas outras, com as casas de granito (excepto as mais recentes, todas muito juntas) uma vez, que o carácter acidentado do terreno dificilmente comportaria aldeias muito grandes. Porém, como antigamente a terra era (e ainda continua a ser, embora cada vez menos) explorada em regime comunitário, também isso favoreceu a concentração da população em aldeias para maior facilidade de realização dos trabalhos agrícolas comuns.



O património histórico:


Em relação ao património histórico, perto da aldeia de Vilar de Izeu pode-se visitar o Castelo de Monforte, a capela do Larouco e a imponente Igreja Matriz em Oucidres. Tal como em Oucidres, também em Vilar de Izeu se pode apreciar as casas feitas em granito e a capelinha de devoção a São Tomé. Relativamente a esta capelinha, conta o povo, com base numa lenda já muito antiga, que este Santo era irmão de Santo André e, que, um dia Santo André, por estar muito aborrecido com a preguiça que pairava entre os habitantes da sua aldeia, resolveu abandonar o seu altar para ir em busca de outra freguesia melhor. Porém, quando chegou ao sítio das Almas, no caminho para Vilar de Izeu, encontrou o seu irmão, Santo André, que tinha procedido de forma semelhante e pelas mesmas razões. Depois de uma longa conversa concluíram que o melhor seria continuarem nos seus templos, a missionarem e a lutarem contra a preguiça do seu povo, uma vez que os paroquianos sofriam todos do mesmo mal. Assim, decidiram permanecer nos seus altares onde ainda hoje continuam a velar pelos habitantes das suas aldeias.
Outras construções que se podem visitar em Vilar de Izeu: para quem se desloca de Oucidres para Vilar de Izeu pode observar à entrada da aldeia uma fonte centenária, construída em granito, (a fonte de “Rigueiros”) onde outrora as raparigas quando iam buscar água aproveitavam para namoriscar os rapazes. Também nesta fonte, as mulheres da aldeia aproveitavam a água para lavarem a roupa, costume que se perdeu por completo até porque o sítio onde elas lavavam os corpetes e os aventais, infelizmente já não existe. À saída da aldeia e a caminho de Bobadela existe também outra fonte, conhecida no antigamente como a fonte de “Bobadela” apesar da mesma pertencer a Vilar de Izeu. Estas duas fontes foram actualmente recuperadas e mostram um pouco dos antepassados desta região. Uma outra fonte, a da “Pipela” na “Corôa da Quinta” como se chama lá na aldeia, infelizmente não mereceu ainda o mesmo tratamento das anteriores, mas nem por isso deixa de ter a mesma beleza. Um outro local também interessante e que mostra como os mais antigos se deslocavam para buscarem água límpida para o seu consumo é o chamado “Poço da Quinta” com vários degraus, por vezes submersos, que as pessoas tinham de descer até atingirem esse bem tão precioso. Infelizmente, hoje encontra-se tapado por uma grade e bastante degradado. Quanto às belezas naturais, destaca-se, no meio de algumas árvores, um imponente carvalho, no meio do sítio designado por “Salgueiro” a caminho de Oucidres, onde muitas vezes os agricultores, em dias bastante soalheiros, se deslocavam afim de aproveitarem a fresca sombra e aí merendavam e descansavam um pouco antes de voltarem às ceifas ou à apanha da batata. Esta árvore, actualmente com mais de sessenta anos surgiu neste local duma forma bastante hilariante. Conta-se que há sessenta e poucos anos uma mulher ao casar-se foi morar para a terra do marido. Apesar de não saber trabalhar no campo, acompanhava sempre o seu marido e, sentada no chão ali ficava a observá-lo. Um dia ao encontrar uma bolota, pegou nela e fez um pequeno buraco na terra e enterrou-a. Curiosamente, pouco tempo depois eis que uma pequenina árvore aflorava à superfície tornando-se hoje naquele que é conhecido por todos em Vilar de Izeu como o carvalho do “Salgueiro” um dos mais imponentes da região.


Memórias do passado de Vilar de Izeu:


Vilar de Izeu, apesar de ser uma pequena aldeia transmontana já teve tempos áureos onde a juventude era uma constante. Hoje, os tempos mudaram, mas convém não esquecer os costumes e usos outrora vividos pelos antepassados da aldeia. Aqui ficam algumas das características duma vivência que remonta às primeiras décadas do século XX:
- Quando se queria pão recorria-se ao chamado forno do povo que era partilhado por todos os habitantes da aldeia;
- Quando um vizinho precisava de ajuda para as segadas, todos na aldeia uniam esforços e formavam um grupo para o ajudar, formando a chamada “camarada”;
- Terminadas as segadas, dava-se início às “acarrejas” que consistiam no transporte do centeio para as eiras, locais onde o cereal iria ser debulhado ou malhado;
- O cereal que ficava espalhado pelos campos era colocado em pilhas gigantes em forma de pirâmides e às quais se dava o nome de “meda”;





Figura 12. A eira e o palheiro (típicos da região de Vilar de Izeu), actualmente em vias de desaparecimento total.


- Nas malhadas também os mais pequenos podiam participar cumprindo as tarefas que lhes eram previamente definidas;
- Antigamente produzia-se o linho que depois era trabalhado e dava origem a tantas peças magníficas de artesanato. Hoje, essa cultura encontra-se em total declíneo;
- Antigamente a matança do porco era um dia de festa. Actualmente este hábito continua, mas a alegria associada a este evento foi-se perdendo;
- A vindima era feita em grupo, mas todos tinham lagar onde produziam o seu próprio vinho. Outrora, a apanha das uvas era efectuada para pequenos cestos que depois de cheios eram despejados em “barleiros” (cestos maiores), que por sua vez eram despejados em dornas. Terminada a vindima, era necessário pisar as uvas já colocadas no lagar. Este trabalho era geralmente realizado à noite pelos homens, enquanto as raparigas bailavam e divertiam-se ao som da concertina;
- Os habitantes da aldeia não usavam sapatos, mas sim as socas (tamancos), especialmente no Inverno, e que eram construídas em madeira. Assim mantinham sempre os pés bem quentinhos;
- Os trabalhos domésticos ou caseiros eram organizados pela comunidade feminina da aldeia, mas muitas das tarefas a realizar em prol do bem-estar da aldeia eram discutidas e aprovadas pela comunidade formada pelo próprio povo. Estas tarefas eram geralmente adaptadas às necessidades da aldeia e todos as cumpriam de igual forma,
- Não se falava de política pois era extremamente perigoso fazê-lo e, como tal, era proibido tocar nesse assunto;
- Outrora não existia televisão e as notícias passavam de boca em boca, mas se fossem divulgadas na igreja então eram aceites como verdadeiras;
- Não existindo televisão, tanto os jovens como os adultos distraiam-se, os primeiros com as suas brincadeiras e os segundos com os jogos, hoje apelidados de populares;
- As crianças divertiam-se fazendo a corrida das rodas, jogando a “bilharda” ou ao pião, entre outras brincadeiras;
- Os adultos gostavam muito de jogar o “Fite” um jogo parecido com o jogo das malhas, mas com regras diferentes. Actualmente existem ainda aldeias do concelho de Chaves onde se organizam torneios de “fite”. Também se jogavam as “gralhas” (um jogo parecido com o “fite”) e a “malha ferrinha”, entre outros;
- O souto (castanheiro) era e continua a ser uma presença viva em torno da aldeia. As castanha sempre fizeram parte do quotidiano dos seus habitantes. Porém, antigamente, era costume alguns rapazes deslocarem-se ao campo e fazerem uma cova onde colocavam algumas castanhas envoltas em areia seca, sendo a cova tapada por folhas e terra. Este método permitia conservar, durante alguns meses, estas castanhas frescas e prontas a serem usadas a qualquer momento. Assim, quando chegavam os meses de Maio ou Junho já ninguém, na aldeia, possuía castanhas nem sonhava podê-las encontrar noutros locais. No entanto, quando já ninguém acreditava, eis que uma espécie de milagre acontecia e esses rapazes apareciam com as castanhas que tinham escondido, revelando o mistério e fazendo um enorme magusto para todos;
- Por altura do ano novo, mais propriamente no dia 6 de Janeiro (dia de Reis) as crianças formavam grupos que ordeiramente, com uma sacola às costas, batiam a todas as portas dizendo” Boas Festas e Bom Ano, darão-nos os Reis” na esperança de receberem algo em troca. Os sacos normalmente enchiam-se de produtos que eram produzidos pelos donos das casas, como por exemplo: maças, figos secos, castanhas, nozes ou até mesmo rebuçados;
- Na altura da Páscoa, havia, geralmente, bailes que eram muito animados e onde se juntavam pessoas oriundas de outras aldeias;
- No Entrudo (carnaval) não existiam corsos carnavalescos, máscaras e nem samba. Cada um mascarava-se como podia. Geralmente os homens disfarçavam-se de mulheres e vice-versa. A cara era usualmente tapada com panos ou rendas. Ao início da noite, haviam adultos que se mascaravam e percorriam todas as casas da aldeia cumprimentando os seus proprietários, mas sem proferirem uma única palavra. Só após o términus deste evento se ficava a saber afinal quem era quem.

Com este artigo, pretendeu-se dar a conhecer um pouco da história (passado e presente) de Vilar de Izeu, uma entre muitas outras aldeias, por vezes esquecidas, mas que encerram em si um passado bastante rico e uma beleza por vezes rara, aspectos estes aos quais nem sempre se dá a devida importância.
Vilar de Izeu é de facto uma aldeia muito pequena, mas que merece e vale a pena ser visitada.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Trás-os-Montes: Portugal

O Nordeste Transmontano



Trás-os-Montes, é uma província de Portugal Continental, criada pela divisão administrativa de 1936 que compreende sobretudo vastas extensões planálticas elevadas (à volta dos 700-800 metros de altitude), dominadas por algumas serras não muito altas e cortadas por bacias que correspondem a abatimentos tectónicos e por entalhes erosivos muitas vezes guiados por acidentes estruturais.




O clima desta região reflecte a influência da cadeia montanhosa que abriga a região a Oeste (formada entre outras, pelas serras do Gerês e da Peneda) e a da sua posição no conjunto da Península Ibérica (note-se que o Nordeste Transmontano é a área portuguesa mais afastada do Oceano Atlântico, a uma distância pouco superior a 200 Km).




Se no Noroeste de Portugal a precipitação chega a ultrapassar os 3000 mm, já na região do Nordeste Transmontano esta vai diminuindo à medida que se caminha para o interior, chegando a atingir apenas 600 mm nos planaltos orientais e menores quantidades, ainda, nas áreas rebaixadas, onde as influências atlânticas mal conseguem penetrar.
Quanto à temperatura, os contrastes térmicos acentuam-se do mesmo modo em Trás-os-Montes: Invernos mais frios e secos (com temperaturas inferiores a zero graus e com o solo coberto de neve, por vezes durante largos períodos) e Verões mais quentes. Há mesmo um velho ditado que diz que nesta região tem-se três meses de Inverno e três meses de inferno.
Estas características físicas influenciam claramente as actividades rurais ainda muito ligadas às tradições.




No planalto transmontano, a organização do espaço rural está estruturada a partir das unidades de povoamento aglomerado (casas muito juntas umas das outras), características da região.




Em torno de cada aldeia ficam primeiramente as culturas mais delicadas e exigentes, como as hortícolas (antes também o linho), que é preciso regar e estrumar em abundância. Essas culturas aparecem também ao longo dos cursos de água, mas aí dominam os prados naturais, designados por lameiros. A seguir, ficam os campos de cereal abertos, tradicionalmente agrupados em dois sectores, ou folhas, que permitem a alternância de centeio com um ano de pousio. Acrescente-se ainda a presença de árvores de fruto, muitas vezes no anel de agricultura intensiva (agricultura onde o solo não tem descanso - sem pousio), junto à aldeia, e a vinha em alguma encosta soalheira mais propícia.




Trás-os-Montes é assim uma região que tem os seus encantos por as suas gentes continuarem a manter, em grande parte, as suas tradições. É de facto um local que se aconselha a visitar e a preservar.